Como já foi dito em post anterior nossas transcrições vão
servir como base de roteiro para o documentário e deve ter muita gente se
perguntando qual é a lógica de ter um roteiro na pós-produção, quando o “normal”
é na pré-produção, durante a gestação do projeto. Bom, essa noção de que o
roteiro, obrigatoriamente, deve ser feito antes das filmagens vem
do filme de ficção, junto com essa noção forma-se outro conceito para o
documentário, de que sua criação é de “cinema de guerrilha”, com uma ideia na
cabeça e uma câmera na mão se pode fazer qualquer documentário e hoje veremos
que não é bem assim. O roteiro documental é uma escrita em aberto, muitas vezes leva todas as fases de produção para ser concluído. Nessa parte I falaremos um pouquinho sobre a construção histórica desses conceitos.
Lá pra 1905, no comecinho do
cinema, os filmes começaram a se transformar de curtas para longas-metragem, como
também estavam saindo da experimentação e da simples amostragem de imagens que
se mexem, para construir uma narrativa, engatinhava para fora dos teatros de
variedades para se tornar a sétima arte. Com todas essas mudanças e
crescimentos começam a exigir um planejamento mais amplo e nasce o embrião do
roteiro cinematográfico, que foi baseado no texto teatral.
Um cinematográfo
Foi também por essa época que o cinema começa a ser visto
para além da experimentação, da arte e da curiosidade e começa a ser visto como
produto cultural, ou seja, um produto econômico, um bem vendável, logo o
roteiro começa a ser escrito levando em conta os custos e lucros do produto
final. Como em um roteiro mais fechado é mais fácil de identificar se o filme
depois de pronto dará mais lucro do que custo, a ficção começou a dominar o
mercado cinematográfico. E criou-se um mito de que o documentário não
precisa de organização prévia, de que o documentário existe sem a pré-produção
e que, por não conseguir se prever economicamente, não faz parte do cinema
lucrativo-industrializado. Como resultado temos hoje uma
construção cultural de que o cinema de ficção é “melhor” do que o documental,
pois os grandes estúdios raramente se interessam por documentários.
Georges Méliès, o pai da ficção no cinema com seu filme
mais famoso "Viagem à lua"
mais famoso "Viagem à lua"
por Lara Buitron.
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